A capital de todos os brasileiros também é a capital de todos os sabores
Qual é a cara da comida de Brasília? Será mesmo que existe um tipo de gastronomia tradicional na cidade? A miscelânea da culinária local encanta os paladares. Do simples ao requintado. Tudo ao gosto do cliente. Nas barraquinhas das feiras espalhadas pela capital do país, as alternativas de comidinhas são muitas. Difícil até de escolher.
Quando se chega à feira do Núcleo Bandeirante, depara-se com um lugar que mais parece um grande restaurante. São mesas, cadeiras e pequenos quiosques distribuídos em um amplo galpão. Um cheiro do nordeste emana no ar. Além de almoçar, as pessoas também fazem do local um ponto de encontro com os amigos.
O comerciante Ari Rocha é proprietário de um dos restaurantes do lugar. Ele diz que se estabeleceu nessa feira bem no início da criação, há 22 anos. Com dez funcionários e comandando uma cozinha que serve em média 300 refeições por dia, o empresário afirma que o negócio é lucrativo. E justifica: “Aqui vem muita gente. Eles gostam de comer na feira uma comida mais caseira”.
O comerciante José Vieira saiu do Ceará em 1988 e veio “tentar uma vida melhor” em Brasília. Ele diz que para relembrar os pratos da terra natal frequenta a feira do Bandeirante uma vez na semana, onde se pode comer a melhor galinha caipira da cidade, na opinião dele.
Os frequentadores não veem só maravilhas. A cuidadora de idosos Luciene Lira, moradora do Núcleo Bandeirante, vai com o marido à feira há, aproximadamente, 10 anos. De acordo com ela, a comida não é caprichada e não traz o tempero acentuado e diferenciado da comida do Nordeste.
Torre de TV
Na Torre de TV, ponto turístico de Brasília, os quiosques de comidinhas são bastante variados. São 15 de um lado e 15 do outro. Pode-se encontrar desde pratos chineses até churrasco. O rolinho primavera (frito na hora) sai a R$ 2,00.
Pastel e caldo de cana são os mais populares, oferecidos aos montes, em seis quiosques diferentes. Mas as opções da feira não ficam só no trivial de feira. A gastronomia paraense, por exemplo, enche os olhos dos visitantes. Diversas as barracas servem tacacá, pato no tucupi e maniçoba. Pode-se degustar a tapioca com coco acompanhada de uma xícara de café por R$ 4,50.
Tem até barraquinha de comida self service para quem quiser. O atendente Sidney da Silva é um verdadeiro “cardápio ambulante”, pois os tipos de alimentos estão descritos no avental que usa. Silva calcula a venda de aproximadamente 250 quentinhas por final de semana, ao custo de R$ 10,00 cada.
Baianas vestidas com trajes típicos enfeitam as barraquinhas de iguarias da Bahia. Abará, cocadas, beiju e cuscuz de tapioca são alguns exemplos da variedade do cardápio da região. A baiana Evilásia Reis do Nascimento vende acarajé há 48 anos na feira da Torre. “Ela é a soteropolitana mais velha de idade e de trabalho daqui”, afirma a filha da comerciante, Esmeralda Marinho. “Aqui é tudo fresquinho, feito na hora. Processamos a massa do acarajé quando a gente chega e fritamos na vista do cliente. Os ingredientes guardados por muito tempo podem até causar uma infecção intestinal”, explica.
Feira do Guará
A área de alimentação da Feira do Guará é muito limitada, segundo a artesã Wanda Lúcia Mendonça. Ela expõe no lugar há 10 anos e come nos quiosques de quinta a domingo, dias de duração da feira. Wanda, que prefere comida caseira às regionais, almoça em um self service perto da pista principal do Guará, na lateral da feira.
Mesinhas cobrem as calçadas e placas grandes e coloridas anunciam os restaurantes. Mas, no interior da feira, uma pastelaria e uma enorme lanchonete fazem sucesso entre os visitantes. Na hora do almoço, o quilo da comida no Café Dona Neide custa R$ 23,90 durante a semana e R$ 25,90 nos finais de semana e feriados.
Feira da Ceilândia
Na Feira da Ceilândia barracas de frutas e verduras frescas estão distribuídas entre as de comidinhas. Cabrito, buchada de bode, pastéis, churrasco, peixe frito e dobradinha são alguns dos pratos que se pode degustar nesse lugar. Debaixo das árvores no final da feira, crianças se divertem em um parquinho de brinquedos de metal e madeira coloridos durante as manhãs e tardes dos finais de semana. Frequentar essa feira tornou-se um passeio familiar para a artista plástica Nanrery Sérgio. “Venho sempre com meus pais comer aqui”, fala. Um PF com arroz branco, peixe cozido, farofa e batatas fritas sai a R$ 8,00.
Mercado Municipal
Há cinco anos o Mercado Municipal se faz presente na cidade. Segundo o proprietário do lugar, Jorge Ferreira, "é uma cozinha de mercado honesta, como as de antigamente, onde se pode tomar apenas um cafezinho, experimentar um pastel de bacalhau ou um sanduíche de mortadela". Chopp gelado, carta de vinhos e diversidade de cachaças compõe o cardápio das bebidas.
Painel do artista Paulo Andrade, ao estilo Nilton Bravo, que retrata personagens da boemia candanga ilustra a parede de entrada. Padaria, cafeteria, bar e restaurante. Quitanda com produtos orgânicos, carnes e peixes nobres, queijos nacionais e importados, temperos a granel, castanhas, frutas desidratadas e pastas árabes fazem parte do rol oferecido pelo Mercado.
Com mesinhas montadas também na calçada da W3 Sul além do salão principal, o bar e restaurante funciona todos os dias. A feijoada nas sextas e sábados, segundo o gerente Max Demian, é bastante procurada pelos clientes. “Fica lotado. E olha que aqui comportam 230 pessoas”, fala. O preço é de R$ 36,20 e a caipirinha, por conta da casa. Samba e chorinho aquecem o ambiente, com grupos ao vivo. É cobrado o couvert artístico: R$ 5,00 por pessoa.
O garçom Vilmário Oliveira conta que a rabada, servida as quartas-feiras, é a preferida de muitos políticos frequentadores do lugar. O prato serve duas pessoas e sai a R$ 37,00. Acompanha arroz branco. Nas quintas, a pedida é a moqueca de peixe, com arroz e pirão. Também para dois, esse prato custa R$ 51,20. E, sobremesas à parte. Por R$ 6,90, pudim de leite, goiabada cascão com queijo minas e doce de leite cremoso adoçam os paladares dos clientes.